Workshop “Bandolim brasileiro”, Festival Mandopolis
No domingo 12 de julho de 2009, no dia seguinte ao concerto do duo Choro na Manga no Festival Mandopolis, tive o prazer de realizar um workshop com o tema “Bandolim Brasileiro”. Eu era o único representante dos bandolinistas brasileiros no Festival, que aconteceu entre os dias 10 e 12 de julho de 2009 na pequena cidade de Puget-Théniers, no sul da França.
Eu não tinha certeza de qual seria o público do workshop, então preparei um programa bastante maleável, que abrangia desde aspectos gerais da música brasileira até certas particularidades do modo brasileiro de se tocar bandolim. Iniciei o workshop executando dois clássicos do Choro, “Segura ele” (de Pixinguinha), e “Diabinho maluco” (de Jacob). Acompanharam-me o Fabrizio (7 cordas) e a Milena (pandeiro). A Milena, além de excelente pandeirista, é excelente cineasta, e estava em Puget para apresentar seu documentário “Nas Rodas do Choro”.
Como o meu francês está ainda em um nível deplorável, o grande violonista carioca Cristiano Nascimento quebrou meu galho e serviu de intérprete. Iniciei o bate-papo com duas palavras sobre o bandolim na música brasileira: um instrumento sem uma escola (no sentido formal do termo), inicialmente solista, mas que ultimamente vem demonstrando também sua capacidade de acompanhador.
Pronto: já tínhamos assunto para horas e horas de workshop! Logo notou-se o interesse do público pelos aspectos mais amplos, mais que pelo bandolim em particular. Uma questão muito interessante que foi levantada, e difícil de responder, estava relacionada à naturalidade com que tocamos o repertório chorão, fazendo variações e improvisações, sendo o Choro uma música relativamente complexa. A resposta mais precisa, ao meu ver, é a realidade do chorão típico: um apaixonado pela música brasileira, que vive dela, a escuta e se relaciona com ela cotidianamente. A naturalidade ao tocá-la vem como consequência deste processo.
Já havia apresentado no início do workshop o bandolim “típico”. ou seja, o solista de Choro. Para dar um exemplo do bandolim solista sem acompanhamento, algo inexistente até 20 ou 30 anos atrás, executei um arranjo do Choro “Inesquecível”, de Paulinho da Viola. Um arranjo simples, pero eficiente, com a harmonia colocado nos (poucos) espaços disponíveis, abusando de arpejos que fazem confundir-se em si melodia e acompanhamento. Este tipo de arranjo é cada vez mais frequente com o advento do bandolim de 10 cordas, cujo precursor foi o grande bandolinista Hamilton de Holanda.
Outro aspecto abordado foi o do bandolim acompanhador. Para demonstrá-lo, pedi ao Fabrizio que executasse tal como original o maxixe (sim, é um maxixe!) “Sons de Carrilhões”, do violonista João Pernambuco. Importante notar que não tocamos o arranjo gravado pelo Choro na Manga em seu primeiro disco, mas sim a versão original para violão, com o bandolim fazendo um mero acompanhamento rítmico.
Está bem, admito, nenhum bandolinista consegue acompanhar sem fazer ao menos uma frase com um tremolozinho de vez em quando. É verdade. Mas procurei conter-me, e fiz um acompanhamento bastante claro — e aí estava o bandolim desempenhando um papel que desde sempre pertenceu ao cavaquinho, o de acompanhador rítmico.
Exemplifiquei ainda as diversas regiões que podem ser usadas no acompanhamento, a depender dos instrumentos presentes. O bandolim, especialmente o de 10 cordas, tem uma característica fundamental ainda pouco explorada pelos regionais de Choro: se tocado com ciência, ele pode intrometer-se exatamente na região “vazia” entre o violão e o cavaquinho, explorando uma região média altamente promissora.
O workshop durou cerca de uma hora e meia, e fiquei muito satisfeito porque foi possível passar uma idéia bastante detalhada do bandolim inserido na música brasileira. Minha intenção foi de centralizar o debate na nossa linguagem bandolinística, e não em aspectos técnicos, tais como palhetadas, tensão de cordas e outros assuntos que para mim provocam mais sono que interesse.
Depois do Workshop? Uma Roda de Choro, é claro!…